J-AGRO é um grupo de ex-estagiários do programa do Ministério da Agricultura do Japão para agricultores nikkeis do Brasil, Argentina, Paraguai, Bolivia e Peru que recentemente se incorporou ao programa.
Este site visa compartilhar e divulgar conhecimentos adquiridos durante treinamentos no Japão para trocar ideias entre agricultores nikkeis da América do Sul e o Japão.

O papel das mulheres na revitalização das áreas rurais e meus aprendizados

Miriam Iida/ADESC-Vargem Grande Paulista/Treinamento voltado ao grupo de mulheres (12/2019)

(1) Aprendizagem do curso

No segundo semestre de 2019 participei do Treinamento do Grupo de Mulheres, junto com mais sete mulheres de diferentes países (Paraguai, Argentina e Bolívia) e de diferentes regiões do Brasil. Foi um momento de muito aprendizado, novas amizades e muita troca de experiências.

Em um período de quase quatro semanas visitamos várias regiões do Japão (Tokyo, Saitama, Kochi, Ehime, Nagano), conhecendo as atividades realizadas por grandes mulheres que com o seu trabalho, buscam revitalizar suas regiões.

Muitas cidades pequenas do interior do Japão têm sofrido muito com o êxodo rural, o termo se refere a migração por seus habitantes em busca de melhores condições de vida. Nas regiões que visitamos, o processo ocorre principalmente quando a população mais jovem acaba saindo para estudar em cidades maiores e não retorna. E a região acaba dependendo de seus moradores com idade mais avançada. Esse processo faz com que a população mais velha se mobilize para realizar atividades para manter a região em crescente desenvolvimento.  É nesse cenário que as mulheres entenderam que podem desempenhar um papel importante e de liderança e encontraram forças para desenvolver atividades que estão mudando a economia e a atividade social da região.

Apesar de terem vivenciado experiências diferentes, elas tem em comum algumas paixões:

-A Valorização da região onde moram, dando importância a matéria prima que a sua região produz;
-A Criação de produtos que valorizam a sazonalidade de suas matérias primas;
-O Aproveitamento de cada parte de seus produtos, onde as partes não vendáveis são transformadas em alimentos processados artesanalmente;
-A Promoção e a conscientização de outras mulheres agricultoras, incentivando o trabalho e autonomia dessas mulheres mais jovens, seja na produção do alimento ou no seu processamento;
-A Organização das atividades sociais para valorizar a amizade entre os moradores da região;
-A Divulgação do seu trabalho para envolver as pessoas que moram no entorno, buscando permitir novas fontes de renda para seus vizinhos;
-A Busca cada vez mais envolver pessoas mais jovens para dar continuidade a esse trabalho levando estímulo e motivação de viver com mais alegria.

Através das conversas e palestras sobre as histórias dessas mulheres empreendedoras, entendi como o trabalho em grupo pode ser uma motivação, um incentivo para se viver ainda mais feliz. Conheci não só exemplos de negócios, mas sim de vida, da vida em comunidade onde as pessoas encontram no trabalho, um caminho para viver uma vida melhor e mais completa.

Nós mulheres nascemos e crescemos inconscientemente tendo como missão cuidar da família, sermos em primeiro lugar cuidadoras, mas, aos poucos temos conquistado nosso espaço e aprendido que também podemos ser provedoras.

Em tão pouco tempo, conhecemos tantos lugares e tantas pessoas, cada qual com sua história e ensinamentos. Isso me fez sentir e entender a dimensão da importância do grupos liderados por mulheres no processo de revitalização das regiões no Japão.
E uma dessas grandes mulheres é a Sra. Yuka Manabe, da província de Kochi, região de origem da minha Mãe e de meus avós paternos. 

O arroz é um produto muito importante nessa região.

Logo que a conheci, pude sentir a sua incrível energia e valorizar a sua receptividade única. A Sra. Manabe é especialista em transformar a farinha de arroz em deliciosos pratos doces e salgados e está sempre aprimorando e criando novas receitas. Com ela passamos o dia, com a mão na massa, produzindo.

Com o seu incrível talento culinário, ela participa de eventos, feiras e encontros de mulheres onde compartilha seus conhecimentos. Ela também vende seus produtos em um ponto de venda direta, ministra aulas de culinária em escolas com o objetivo de passar suas receitas para que outras pessoas se apaixonem pela atividade e consigam gerar novas fontes de renda, divulgando o quanto conhece sobre a farinha do arroz.

A matéria prima dessa região chamou a minha atenção pois hoje em dia as pessoas tem se preocupado muito com alimentação saudável, e procurado principalmente produtos sem glúten, que é uma linha que sempre desejei acrescentar na minha produção.

Eu trabalho com confeitaria, e as aulas da Sra. Manabe me inspiraram a desenvolver a linha sem glúten da minha produção. Então pensei em introduzir esse novo ingrediente para criar variações dos meus doces, que são principalmente bolos, biscoitos, brownie e pão de mel. Além de desenvolver novos produtos com base nesse ingrediente que é a farinha de arroz.

Uma das receitas que me deixou ainda mais apaixonada  pelo trabalho dela foi o biscoito que Sra. Yuka Manabe  batizou de Shiawase Poron, o “biscoito da felicidade”. Um biscoito que ao colocar na boca, derrete. Ao nos oferecer o biscoito, a Sra. Manabe disse: “Provem o biscoito! Mas antes de colocar na boca, pensem em coisas boas e felizes!”.

Esse biscoito é feito a base de farinha de arroz e farinha de amêndoas, muito simples de preparar, e que me lembra muito aquele momento mágico, que foi o dia que passamos em Kochi.

(2) Aplicação do aprendizado

E de volta ao Brasil, logo decidi reproduzir a receita. Preparei duas receitas ao mesmo tempo, uma com a farinha de arroz produzida em Kochi (que ganhamos de presente) e outra com a farinha de arroz brasileira. Notei que talvez existe uma pequena diferença, com farinha daqui o biscoito fica  um pouco mais seco, mas apesar da variação fica igualmente gostoso.
Produzi vários lotes e presenteei amigos e familiares no Natal, e isso foi o start para ter o feedback e entender o quanto esse produto seria aceito aqui entre nós.
E o resultado foi: aprovado!

Após estudar sobre o ingrediente, aprendi que para preparar um bolo, um biscoito ou qualquer outra receita, não podemos pegar apenas substituir um ingrediente pelo outro, como por exemplo, a farinha de trigo pela farinha de arroz, simplesmente porque a farinha de arroz não tem glúten. Toda receita precisa ser testada pensando na função de cada ingrediente.

E estou a cada dia aprendendo mais sobre esse ingrediente maravilhoso que decidi acrescentar na minha lista de ingredientes chave.

Curso de culinária mionistrada pela Sra Manabe
Sra Manabe, emanando muita paixão e alegria ao ensinar

Miriam testando a receita do biscoito com a farinha de arroz

foto à esquerda: farinha de arroz japonesa
foto à direita: farinha de arroz brasileira



"Biscoito da felicidade"
Produto final feito e embalado por Miriam Iida
       

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